Na véspera da reabertura dos protocolos de recebimento de pedidos de novos financiamentos agropecuários, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu nove linhas de crédito rural. O motivo para essa suspensão é, de acordo com o BNDES, o elevado nível de comprometimento dos recursos financeiros disponíveis.
Segundo informações do Valor Econômico, as linhas de crédito rural suspensas são:
- Programa Crédito Agropecuário Empresarial de Custeio;
- Linhas de Investimento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar;
- Linha de financiamento do Pronaf, investimento destinado à aquisição isolada de matrizes, reprodutores, animais de serviço, sêmen, óvulos e embriões;
- Investimento destinado à aquisição de tratores e implementos associados, colheitadeiras e suas plataformas de corte, assim como máquinas agrícolas para pulverização e adubação;
- Linha de investimento do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural;
- Programa para adaptação à mudança do clima e baixa emissão de carbono na agropecuária (Programa ABC+) exclusivamente no tocante às linhas ABC+ Recuperação, ABC+ Orgânico, ABC+ Plantio Direto, ABC+ Integração, ABC+ Florestas, ABC+ Manejo de Resíduos, ABC+ Dendê, ABC+ Bioinsumos, ABC+ Manejo dos Solos;
- Programa para construção e ampliação de armazéns (PCA);
- Programa de financiamento à agricultura irrigada e ao cultivo protegido;
- Programa de capitalização de cooperativas agropecuárias.
Ao se analisar o mercado de crédito agrícola no Brasil, resta evidente que as fontes de financiamento de crédito são muito mais acessíveis a grandes produtores, enquanto os pequenos e médios produtores rurais ficam limitados à fontes de créditos convencionais, como as disponibilizadas pelas grandes instituições financeiras nacionais, que impõem, ainda, uma série de dificuldades na obtenção desses créditos que, na maioria das vezes, acabam sendo insuficientes para a atividade desempenhada.
De acordo com a Secretaria Nacional da Agricultura Familiar e Cooperativismo, o agronegócio é responsável por 21,1% do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil e, deste total, cerca de 25% é proveniente da agricultura do pequeno e médio produtor rural. A instituição vai além, informando ainda que, de todas as propriedades rurais existentes no Brasil, cerca de 84% pertencem a pequenos e médios agricultores que, em sua maioria, ficam responsáveis por boa parte do abastecimento interno do Brasil, enquanto os grandes latifundiários se preocupam com a exportação das suas produções.
Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e Country Manager da Savel Capital Partners explica que a saída mais viável ao pequeno e médio produtor rural, neste momento, seja a busca por crédito fora do país.
Através de linhas acessíveis ao produtor rural brasileiro, é possível buscar crédito em fundos americanos e europeus com um período de carência que possibilite o tempo necessário para o agricultor plantar e colher.
De acordo com Luciano, especialista em captação de crédito internacional, este cenário fica ainda mais preocupante quando consideramos que, além desse corte nas linhas de crédito no BNDES, precisamos também considerar que o mercado de crédito está ‘se fechando’ por conta de toda a instabilidade econômica ainda vivenciada no Brasil.
“O pequeno e médio produtor, assim como a maioria dos empresários brasileiros, ficam limitados às ‘migalhas’ disponibilizadas pelos bancos brasileiros, que são insuficientes para a manutenção da sua atividade laboral. Por isso, os pequenos produtores sempre contam com financiamentos do BNDES. Agora, com pouquíssimo acesso a empréstimos e financiamentos bancários somado ao corte de 9 linhas de crédito do BNDES, o desespero ‘bate à porta’ da agricultura familiar, que representa quase que a totalidade do abastecimento nacional, o que pode ser um colapso.”, analisa Bravo.
O especialista alerta para o fato de que, fora do Brasil, existem diversos investidores dispostos a aportar investimentos no país, incluindo o setor agropecuário, o que pode ser uma saída muito viável para a manutenção da estabilidade agropecuária nacional, principalmente por conta das melhores condições de juros, a maior facilidade no acesso ao crédito e a tributação completamente diferente e mais vantajosa, quando da tomada de investimento internacional.