Reequilíbrio no mercado de startups: setor segue forte, mas estruturação de negócios é vital para sobreviver

Finanças

Notícias de demissões em startups, retorno de executivos para companhias tradicionais e dificuldade de crescimento no setor foram comuns em 2022. Mas será que esse mercado passa mesmo por uma crise? E como será o ano de 2023? Para o gestor da área Startups Advisory da OBB Capital, Robert Dannenberg, a resposta é que não se trata de crise, e sim de um momento de readequação –  o que reforça ainda mais a necessidade de uma boa estruturação de planos de negócios. 

“Ao contrário do que muita gente pensa, o mercado de startups vai continuar crescendo. Os volumes de investimento continuaram altos mesmo em um ano difícil, com eleições, Copa do Mundo, inflação e taxas de juros”, diz Dannenberg.  

Criada há seis meses, a Startups Advisory oferece consultoria para empresas de inovação conseguirem se capitalizar. Funciona como uma espécie de ponte entre as empresas que buscam financiamento e os investidores. A nova unidade da OBB Capital auxilia startups de inovação a estruturar todo o negócio, desde a concepção da ideia e planejamento até governança e estrutura societária.   

“O nosso papel, enquanto advisors, é ter uma relação de confiança com as startups e os investidores, buscamos alinhar os interesses desses dois universos. Não olhamos apenas plano de negócios e a oportunidade, analisamos os founders, são eles que fazem a grande diferença, afinal, o investimento não vai para o cavalo, vai para o jóquei”, diz Dannenberg. “Ajudamos a estruturar o negócio de forma a liberar os empreendedores para tocar a empresa, e nós cuidamos dos recursos necessários para a startup se desenvolver e crescer”, complementa.

Olhar para 2022

Mas, se o mercado permanece ativo, por que tanta notícia negativa? Segundo Dannenberg, algumas empresas estavam supervalorizadas, após fazerem rodadas de captações muito grandes e contratar pessoal demais. O que houve, então, foi uma adequação à realidade: “Essas empresas sofreram. O mercado avaliou que elas não valiam 100, e sim 50. Consequentemente, tiveram que demitir para se adequar ao tamanho que realmente são, e sofreram para conseguir novas rodadas”

Por outro lado, afirma o gestor, existem muitas empresas com valores adequados ao que faturam, que continuam fazendo captações. “O saldo é positivo. Houve um equilíbrio entre os dois lados”, diz. 

Os números de 2022 comprovam a visão do gestor e conselheiro da OBB. A comunidade de startups Distrito mapeou investimentos de US$ 4,45 bilhões em venture capital no Brasil no ano passado, com 755 rodadas de investimento. O volume de investimentos é 54,6% menor do que em 2021 (US$ 9,78 bilhões), embora a quantidade de rodadas só tenha caído 12,7% (865). 

Por outro lado, os dados de 2022 são melhores do que dos anos anteriores a 2021, quando houve uma explosão de investimentos motivada por fatores como baixa de juros global e aceleração da digitalização provocada pela pandemia. Em 2020, por exemplo, o volume de aportes em venture capital foi de US$ 3,59 bilhões, valor 23,9% inferior ao de 2022.

Segundo analistas, não houve uma ruptura na oferta de investimentos. A retração do ano passado ocorreu principalmente com empresas em estágio avançado (late stage), que exigem grandes rodadas, o que fez o volume total de aportes diminuir. Em 2022, ocorreu uma racionalização do mercado, com os fundos mantendo apetite, mas se tornando mais seletivos e exigentes. 

A Bossanova, uma das principais empresas de venture capital da América Latina, investiu R$ 52,4 milhões em 2022 em startups em estágio inicial (early e seed stage), crescimento de 47,7% em relação ao ano anterior. Além disso, a Bossanova registrou alta de 22% em operações de saída devido à aquisições feitas por grandes empresas, chamadas de exit.

Já os números mais recentes da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), do terceiro trimestre de 2022, indicam um investimento de R$ 10,4 bilhões em compra de participação em startups, valor 6% abaixo do mesmo perído do ano anterior. Por outro lado, no terceiro trimestre de 2021 os aportes somaram R$ 5,3 bilhões. 

O fato é que não existe investimento sem algum tipo de risco. Afinal, estamos falando de venture capital. Por isso a importância das empresas estruturarem bem seus negócios, ainda mais em um momento em que os investidores estão mais criteriosos. 

É aí que entra todo o conhecimento e experiência dos sócios e gestores da OBB Capital. “Do nosso lado, procuramos mitigar os riscos. Fazemos a análise da startup, do mercado, capacidade, buscamos um benchmark internacional, ajudamos a startup a ter os elementos que impactam em um orçamento. Depois, a gente senta com o investidor, que tem muito mais segurança, pois os principais elementos de risco foram analisados pelo time. Assim, os dois lados da moeda saem ganhando”, explica Robert Dannenberg.