Brasil apresenta perspectivas positivas para área de saúde da mulher

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Por Filipe Mesquita, diretor executivo e sócio do Boston Consulting Group (BCG)

Nos últimos anos, o Brasil tem feito progressos significativos na saúde da mulher, incluindo melhorias na disponibilidade e qualidade dos serviços, aumento da conscientização e do nível de investimento realizado nos âmbitos públicos e privados. Entretanto, apesar desses avanços, ainda existe uma série de disparidades quando se compara aos países referências no tema, como Suécia, Noruega e Canadá, já que oferecem mais diversidade de serviços, realizam campanhas de prevenção e educação em relação a questões sensíveis (menopausa, cânceres específicos do público feminino, saúde mental, entre outros), possuem maior efetividade dos serviços de saúde reprodutiva e materna, além de garantirem equidade e facilidade no acesso entre todas as mulheres, incluindo grupos minoritários e vulneráveis.

A falta de conhecimento sobre saúde feminina no Brasil ainda leva à estigmatização de tratamentos e/ou métodos preventivos para a saúde reprodutiva e a uma negligência em consultas e exames regulares. Além disso, o acesso limitado a serviços básicos de saúde persiste como uma barreira notável que afeta grande parte da população.

Para superar esses obstáculos, o Brasil pode adotar estratégias inovadoras, como o lançamento de serviços de saúde móveis que facilitam consultas pré-natais e ultrassonografias, e a implementação de programas educacionais em escolas e comunidades. Além disso, profissionais da saúde que atuam em regiões de infraestrutura precária devem receber treinamento especial para melhorar a qualidade do atendimento, tornando-se aptos a realizarem visitas domiciliares para monitorar a saúde das gestantes e encaminhar para serviços de saúde quando necessário.

Uma das coisas que mais chama minha atenção na contribuição para a ampliação dos cuidados com a saúde da mulher é o uso de tecnologias que não precisam de grande banda larga. De maneira muito simples e eficaz, mensagens SMS, com lembretes de consultas ou dicas de saúde, e linhas de apoio telefônicas para mulheres grávidas, por exemplo, estão beneficiando povos em áreas remotas, com dificuldade de acesso aos cuidados necessários.

Contudo, é preciso ressaltar que os custos de procedimentos femininos mais complexos, como a reprodução assistida, ainda representam uma barreira socioeconômica. Neste contexto, a discussão sobre modelos de pagamento mais flexíveis e a inclusão de tratamento de reprodução assistida nos pacotes de benefícios das empresas são essenciais. O projeto de lei (55/23), ainda em análise pela Câmara dos Deputados, visa permitir o uso do FGTS para custear esse tipo de tratamento – o que é um exemplo de como políticas inovadoras podem facilitar o acesso aos serviços importantes para a saúde da mulher.

Para 2024, espera-se um avanço contínuo na área de saúde da mulher no Brasil. O que inclui a expansão do número de clínicas, empresas/unidades de negócio e healthtechs com foco no público feminino, bem como o aumento do espectro de serviços ofertados, cada vez mais especializados em cada fase da vida da mulher e com possibilidade de personalização das necessidades individuais. Esta é uma das áreas da saúde que mais tem atraído a atenção de investidores, tendência que deve ser manter ao longo dos próximos anos.

Neste novo contexto, a tecnologia, especialmente a telemedicina e os aplicativos digitais, desempenhará um papel crucial em escalar o acesso aos serviços de saúde. Outros fatores viabilizadores relevantes são a expansão dos programas de conscientização e educação sobre saúde feminina e o desenvolvimento e aperfeiçoamento de políticas públicas inclusivas e abrangentes para atender às diversas necessidades de saúde das mulheres brasileiras, incluindo a exploração de parcerias públicos privadas.

Há a perspectiva de que as clínicas especializadas em saúde feminina ofereçam um leque cada vez mais amplo de serviços, desde o manejo de sintomas da menopausa até suporte psicológico, marcando um avanço expressivo na forma como os cuidados de saúde são prestados às mulheres em cada uma das fases da vida.

O fato é que, com o contínuo surgimento de produtos e serviços voltados especificamente para as mulheres, juntamente com o aumento da atenção e investimento tecnológico no setor, a saúde da mulher no Brasil está no caminho certo para um futuro mais inclusivo e abrangente.