Autor: Flavio Castro, Superintendente da consultoria de riscos Marsh Advisory
Nos últimos 40 anos, quase 1/4 do território brasileiro pegou fogo. As ocorrências de queimadas e incêndios florestais vêm batendo recordes históricos de frequência e severidade, afetando de forma crescente a biodiversidade, a economia e a vida das pessoas. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), somente nos primeiros quatro meses de 2024, foram registrados 17.182 focos de incêndio em todo o país – uma alta de 81% em relação ao mesmo período de 2023.
A intensificação desses eventos é atribuída às mudanças climáticas associadas a um dos fenômenos El Niño mais intensos da história. O cenário contribui para o aumento das temperaturas e a redução da umidade, criando condições mais propícias para a ocorrência e propagação severa de incêndios florestais. No entanto, a principal causa varia: enquanto as condições de seca são apontadas como a principal causa dos incêndios na costa oeste dos Estados Unidos, no Brasil o fator predominante é o desmatamento – prática para abrir espaço para a agricultura e a pecuária.
É fundamental abordar a questão das queimadas de forma proativa, adotando medidas de prevenção, preparação e mitigação de riscos para minimizar as consequências e proteger nossas florestas, negócios e comunidades.
Custos e Impactos
Os incêndios florestais têm causado danos econômicos significativos em todo o mundo. De acordo com a MapBiomas, aproximadamente 2% do território nacional brasileiro foi consumido pelo fogo em 2023, resultando em perdas financeiras substanciais. Os prejuízos incluem danos diretos a propriedades rurais e infraestruturas de áreas urbanas e custos indiretos associados, como interrupções nos negócios e outras perdas econômicas.
Alguns dos principais impactos causados por queimadas:
- Infraestrutura de energia – Danos à infraestrutura elétrica podem desestabilizar redes e levar a cortes de energia para residências e empresas.
- Turismo – O fechamento de pontos turísticos devido a queimadas, ou mesmo a rejeição de destinos devido à má qualidade do ar pode resultar em perdas significativas de receita.
- Florestas – Incêndios florestais podem impactar o fornecimento de madeira e danificar a infraestrutura de extração. Isso tem efeitos residuais em setores como papel, celulose e construção, podendo levar a um aumento internacional nos preços da madeira.
- Agricultura – Incêndios ocorrendo próximos a áreas silvestres podem prejudicar a criação de gado, colheitas e edifícios, causando milhões em perdas agrícolas.
- Áreas urbanas – Os danos podem incluir a destruição de propriedades comerciais e residenciais, áreas de preservação e infraestrutura básica, além de danos à saúde de colaboradores e comunidades.
Como as empresas podem se proteger contra incêndios e queimadas?
Com muitas regiões ao redor do mundo sob risco potencial de incêndios florestais, os líderes empresariais devem considerar a implementação de um plano robusto de gerenciamento de crise e uma estratégia de resolução para orientar sua preparação e resposta, ajudando-os a proteger suas comunidades e propriedades.
Por onde começar?
- Avalie sua exposição ao risco
- É imprescindível identificar o potencial de risco de queimadas e incêndios próximos à empresa.
- Viabilize medidas preventivas
- Com o potencial de exposição ao risco identificado, podemos ajudar a estruturar um plano de prevenção que vai além dos limites da empresa.
- Prepare-se para ações de emergência
- Ao tomar ciência de queimadas, o conhecimento prévio de procedimentos eficazes facilitará a gestão da ocorrência, minimizará danos, garantirá a segurança ao meio ambiente e, principalmente, às pessoas do entorno.
Por que um planejamento estratégico faz toda a diferença?
Embora muitas empresas planejem e pratiquem a gestão de crises, poucas consideram os encargos significativos e súbitos do gerenciamento de reclamações operacionais em grande quantidade, normalmente assumindo que a seguradora irá cuidar do processo. O planejamento inadequado para esse tipo de evento aumenta o risco para a reputação e as finanças.
Existem no mercado modelos operacionais de destino de reclamações em massa que pode ser customizado para qualquer empresa, permitindo que assumam uma posição proativa no cumprimento de responsabilidades durante um desastre. Essa abordagem inclui uma avaliação que permite às empresas testarem a resistência dos planos de suas organizações através de exercícios mais amplos de preparação para crises, podendo identificar onde estão os pontos de falha. Com base nessa análise, podemos ajudar a organização a desenvolver ou refinar um plano claro para apoiar uma resposta eficaz e o gerenciamento de um evento de reclamações em massa.
Projete seu programa de seguros cuidadosamente
As coberturas disponíveis para o Seguro Florestal vão além dos danos diretos às árvores/vegetação e dos prejuízos financeiros devido à interrupção das atividades florestais. Sua apólice pode ter garantias adicionais contra desastres naturais e danos causados à terceiros pela Responsabilidade Civil do Segurado, a depender da disponibilidade oferecida nos produtos comercializados pelas seguradoras.
Nesse cenário, o Seguro Paramétrico também pode ser uma boa opção, pois oferece uma alternativa mais rápida e eficiente ao seguro tradicional. Em vez de depender de processos complexos de ajuste de perdas, essa modalidade é baseada em medições predefinidas, como a intensidade e localização do incêndio, o que permite pagamentos mais ágeis. Além disso, ajuda a cobrir perdas indiretas, como a interrupção de operações, o que é essencial para empresas vulneráveis a danos financeiros provocados por incêndios.
Quando projetado e implementado corretamente, o seu programa de seguros desempenha um papel vital na resiliência do negócio frente a um evento extremo. Neste contexto, a prevenção de incêndios florestais danosos e de grandes proporções é uma responsabilidade compartilhada entre governos, comunidades, proprietários de terras e todos os envolvidos na conservação e proteção das florestas, exigindo uma abordagem multifacetada.
Sobre o autor:
Flavio Castro é especializado em gerenciamento de riscos nas áreas operacionais e estratégicas de empresas, como riscos Operacionais; Ambientais & ESG; Construções; Cibernéticos; Corporativos; e Continuidade de Negócios e Gestão de Crises. Tem Master of Business Administration (MBA) Gestão Empresarial pela FGV.