Falência de bancos americanos deve trazer efeitos positivos para economia brasileira 

Finanças

Autoridades norte-americanas fecharam no último dia 13, dois bancos dos Estados Unidos – o Silicon Valley Bank (SVB), da Califórnia e o Signature Bank, de Nova Iorque, diante da constatação de que as instituições não tinham mais recursos para garantir os depósitos feitos por seus correntistas, ou seja, não tinham mais capacidade e solvência para honrar os seus compromissos. 

Mas o que isso influencia no mercado financeiro brasileiro? Para Wagner Moraes economista, especialista em mercado financeiro e CEO da A&S Partners, apesar da falência de bancos não ser um bom sinal da economia, independentemente de seu tamanho, posicionamento ou grau de amadurecimento, para o Brasil, neste caso específico, o evento no mercado dos EUA pode trazer efeitos positivos na economia brasileira e acelerar o ciclo da redução da Taxa Básica de Juros, a Selic. “Temos esta expectativa tendo em vista que o Federal Reserve não deverá aumentar as taxas na reunião da semana que vem, diminuindo, portanto, a pressão sobre a taxa de juros brasileira. Agora é preciso acompanhar bem de perto os impactos no mercado decorrente do desdobramento da crise, liquidez e insegurança, além de monitorar o grau de alavancagem das instituições brasileiras”, afirma.  

Moraes ainda explica o que ocorreu com os dois bancos dos Estados Unidos. “ O SVB havia investido em títulos do governo norte-americano antes da elevação dos juros. Esses títulos eram pré-fixados e tinham juros compatíveis com a realidade antes da pandemia e do surto inflacionário. Quando houve a elevação dos juros por parte do FED, os títulos adquiridos pelo SVB tiveram perda de valor de mercado decorrente disso. Houve realinhamento dos preços no mercado e aqueles ativos ficaram depreciados, pois, previam uma remuneração abaixo daquela que passou a ser praticada. O banco começou a perder dinheiro, seus correntistas passaram a temer pelos recursos que tinham depositado e houve saque em massa. Mesmo com a reação rápida das autoridades dos Estados Unidos diante do colapso dos dois bancos americanos, isso não foi suficiente para afastar os temores do mercado financeiro. Por outro lado, para evitar eventuais efeitos dominó, as autoridades americanas intervieram de forma decidida e, acima de tudo, enfatizaram que os depósitos dos clientes estavam assegurados”.  

Para o economista, não há risco de uma nova crise financeira global. “Isso porque o posicionamento desses bancos era bem específico e o FED agiu rapidamente para trazer conforto ao mercado”.  

Apesar de uma expectativa positiva e situação pontual ocorrida, Moraes destaca que em caso de falência de bancos um alerta ao sistema financeiro sempre é acionado. “É possível um efeito dominó, uma quebra conjunta de uma ou mais instituições de forma sequencial. Também traz insegurança aos investidores sobre seus ativos e liquidez, além de contaminar o sistema financeiro como um todo. Dependendo do caso e dimensão, pode levar a uma corrida de saques de recursos por parte da população e correntistas, na ânsia de preservar o seu dinheiro e não se expor a riscos. Podemos citar com exemplo, a crise do ano de 2008, iniciada com a falência do Lehman Brothers nos USA, que contaminou o sistema financeiro local e gerou consequências para diversos bancos no mundo inteiro, afetando as economias e aumentando a volatilidade dos ativos de maneira bastante forte”, ressaltou.  

Há, segundo o CEO, o aprendizado de controlar os riscos das instituições de maneira constante. “Fiscalizar as instituições financeiras constantemente para medir o grau de alavancagem e exposição aos riscos, bem como garantir suas reservas para lastrear os depósitos e investimentos de correntistas. Os Bancos Centrais da maioria dos países vêm passando por constante evolução, porém é difícil fiscalizar e controlar da forma como se deve para poder diminuir as exposições das instituições ao risco e evitar a sua falência”, concluiu.